Brasil alcança matriz elétrica mais renovável da história
Em 2023, energia renovável superou a fóssil pela primeira vez desde 1988, representando 51% da matriz energética do país.
Enquanto o uso de energia no Brasil aumentou em 5% de 2022 para 2023, as emissões desse setor cresceram em apenas 1%
A matriz energética do Brasil atingiu um marco histórico em 2023, ano dos últimos dados disponíveis. O uso de energia renovável superou o de não renováveis pela primeira vez desde 1988, chegando a representar 51% da matriz energética nacional. Os dados são do Balanço Energético Nacional, publicados pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). O perfil da matriz reflete o crescimento do uso de fontes como biomassa, eólica e solar, diversificando as fontes energéticas do país e reduzindo a intensidade de carbono no setor. Isso reforça o potencial do Brasil em ser referência global em transição energética.
Segundo informações do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), iniciativa do Observatório do Clima (OC) da qual o Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) faz parte, em 2023 foram emitidas 420,1 milhões de toneladas de CO2e, provenientes do uso de 290,8 milhões de toneladas equivalentes de petróleo (Mtep). Isso resulta em uma intensidade de carbono de 1,4 toneladas de CO2 por tep, representando uma queda de 3% em relação a 2022.
“Um fator importante para que a matriz brasileira fosse mais renovável em 2023 foi o aumento do uso das fontes solar e eólica para geração de eletricidade. A eletricidade produzida a partir de energia eólica aumentou 17% entre 2023 e 2022, enquanto a solar cresceu 68% no mesmo período. Junto a um regime hídrico favorável, isso possibilitou menor acionamento de usinas termelétricas fósseis”, explica Ingrid Graces, pesquisadora do IEMA.
“É preciso se atentar a duas realidades que ameaçam a transição energética justa no setor elétrico brasileiro”, ressalta Felipe Barcellos e Silva, pesquisador do IEMA. Uma delas é a constante iniciativa de setores da sociedade em buscar espaço para termelétricas a gás e carvão, mesmo sem necessidade, o que poderia ser suprido por fontes renováveis. O “jabuti” da Lei 14.182/2022 obriga o país a contratar 8 GW em termelétricas a gás fóssil a partir de 2026, podendo substituir usinas eólicas e solares em até 70% do tempo.
🏭 Indústrias
O aumento do uso de fontes renováveis também se destaca no parque industrial nacional, com maior consumo histórico nas indústrias de alimentos e bebidas e de papel e celulose. No setor de transportes, hoje o maior consumidor de combustíveis fósseis do país, a participação de fontes renováveis, especialmente etanol, já é notável.
Segundo o documento “Futuro da Energia”, elaborado pelo OC com participação do IEMA, o Brasil poderia reduzir quase 70% das emissões do setor de energia até 2050.
Para Silva, “Uma transição energética justa deve priorizar soluções que reduzam emissões e favoreçam comunidades vulneráveis, como transporte público, sem impactos socioambientais negativos. Além disso, é necessário elaborar um plano de transição econômica para regiões ainda dependentes de combustíveis fósseis, como municípios do Rio Grande do Sul com termelétricas a carvão mineral”.
O fato de o país, pela primeira vez em 35 anos, ter atingido uma matriz elétrica com maior porcentagem de energia renovável que fóssil, indica que a transição energética é possível e necessária, desde que apoiada por políticas públicas que também diminuam desigualdades sociais.
